terça-feira, 5 de outubro de 2010



FUGINDO DO DEUS CRIADO PELO SER HUMANO!!!



Transcrevo texto de Augusto Cury, quando em um de seus livros comenta de uma forma muito interessante pensamentos de famosos ateus e por fim entra nas idéias de Nietzsche (filósofo alemão).

Esta é uma maravilhosa reflexão:
“Ele foi o mais inteligente e contundente dos ateus. Muitos religiosos tremem diante dos seus pensamentos. Consideram-no o mais herético dos intelectuais. Não é o que eu penso.
Sobre os alicerces do seu ateísmo, Nietzsche indaga com contundência:
Como?
O homem é só um equívoco de Deus?
Ou Deus é apenas um equívoco do Homem? (Nietzsche 1888).

Se esse arguto filósofo tivesse estudado os segredos fascinantes da oração do Pai-Nosso, entenderia que Deus e o ser Humano são cúmplices um do outro, frutos do mais excelente equívoco, o equívoco do amor. Um amor nascido nas tramas da solidão.
Nietzsche era de fato um ateu?
Queria destruir a idéia de Cristo do seu imaginário?
Achava uma estupidez psicológica o seu humano procurar por Deus nessa curtíssima trajetória existencial?
Considerava um desperdício ocupar a mente com as idéias sobre Deus?
Não!
Nietzsche procurava preparar os solos da sua psique para conhecer os mistérios que cercam a vida. Era alguém inconformado com o superficialismo. Nele havia um desespero intelectual em busca do Autor da existência. Sua ansiosa procura foi um dos exemplos mais espetaculares da inquietação de um ser humano imerso nos pântanos da solidão. Para discutir este assunto, quero transcrever e depois comentar uma oração filosófica feita pelo próprio Nietzsche, e que é muito pouco conhecida. Esta oração foi traduzida pelo ilustre Leonardo Boff diretamente do alemão (Boff, 2000).

Oração ao Deus desconhecido:

Antes de prosseguir em meu caminho e lançar o meu olhar para frente, uma vez elevo, só, as minhas mãos a Ti na direção de quem eu fujo.

A Ti, das profundezas de meu coração, tenho dedicado altares festivos para que, em cada momento, Tua voz pudesse chamar.

Sobre estes altares estão gravadas em fogo estas palavras: Ao Deus desconhecido.

Teu, sou eu, embora até o presente tenha me associado aos sacrílegos.

Teu, sou eu, não obstante aos laços que me puxam para o abismo.

Mesmo querendo fugir, sinto me forçado a servir-te.

Eu quero te conhecer, desconhecido.

Tu, que me penetras a alma, qual turbilhão, invades a minha vida.

Tu, o incompreensível, mas meu semelhante quer Te conhecer, quero servir só a Ti.
(Nietzsche)

Nessa oração os pensamentos de Nietzsche fluem como um rio que jorra do manancial de suas dúvidas. Esse rio flui não apenas na direção do Deus que está além dos limites do tempo e do espaço, mas do Deus que ele procura nos recônditos do próprio ser.

Nietzsche, se debate tentando fugir de Deus para seguir sua história e traçar seus próprios caminhos. Mas não consegui fugir de si mesmo. Os caminhos se cruzam. Só, num mergulho introspectivo e solitário, o filósofo se aproxima do Autor da existência.

Como terra árida que clama pela chuva, qual, sedento que sonha em refrigerar sua alma, ele tem a ousadia de dizer que ergue altares festivos para Ele. Na esperança de ouvir o inaudível, de perscrutar a Sua voz.

Nesses altares estão inscritos em fogo as palavras dirigidas ao mais comentado dos seres e o menos conhecido da história: o Deus desconhecido. Aquele que perturbou a mente de intelectuais e deixou em suspense a inteligencia dos filósofos. Aquele que é especialista em se esconder, mas inscreve sutilmente sua assinatura através das gotas de orvalho, do sorriso de uma criança, da brisa que toca o rosto.

Nietzsche não sabe como defini-lo, mas sabe que não pode deixar de pensar nele. Embora tenha criticado a religiosidade com virulência ímpar e fosse contra a submissão cega, para nosso espanto declara “teu, sou eu”, apesar de até aquele momento ter criticado as idéias, ligadas a Deus. Quem pode explorar as vielas da mente desse filósofo?

Quando todos pensavam que Nietzsche fosse o mais radical dos ateus, na realidade era um filósofo desesperado em busca de uma experiência radical com um Deus vivo, e não com o deus construído pelos seres humanos.

Nietzsche era um anti-religioso que, com uma coragem única, anunciou a morte de Deus. Mas não é a morte do Deus do Pai-Nosso, mas do deus criado pelo ser humano, o deus construido a imagem e semelhança do seu individualismo, arrogância, e autoritarismo. O deus que é um joguete nas mãos humanas, que faz guerras, que subjuga e exclui.

Em sua oração, o filósofo, tenta separar o deus humano que o decepcionou, do Deus concreto que alicerça a existência. Tentou fugir de ambos, mas agora se sente compelido a procurar o Deus real. Não vê sentido se não encontrá-lo. Inquieto com suas próprias conclusões, Nietzsche, se lança como um raio em direção a explicações mais profundas.

Com uma humildade raramente vista entre os mais célebres pensadores, ele reconhece sua pequenez e clama em alta voz e sem medo; “Eu quero Te conhecer, desconhecido!”.

Ele clama de forma imperativa, como se tivesse em sintonia com o tempo verbal usado na oração do Pai-Nosso. Ele não está no alto da montanha, mas no cume dos questionamentos. Nesse cume, deixa-se refrescar pela brisa da serenidade. Não perdeu sua capacidade de aprender.

Para mim, é como se Nietzsche estivesse recitando a oração do Pai-Nosso à sua maneira. Como se dissesse: Deus desconhecido que estas nos céus, quero elogiar o Teu Nome, mas não sei quem Tu és. Sai do Teu reino e penetra em meu ser. Ansiosamente espero ouvir a Tua voz. Deixa-me conhecer Teu projeto e saber onde eu me insiro nele. Sulca os solos da minha alma. Não m e deixes sucumbir nos áridos vales das dúvidas. A Ti pertenço. Teu sou eu, embora, até o presente, eu tenha Te negado. Dá-me o pão diário que nutre a inteligência. Eu quero te conhecer, desconhecido.

Ateus e não-ateus, independentemente de uma religião, sempre tiveram Deus como um tema central em suas inteligências. Disseram palavras que, embora nunca pronunciadas, expressaram estas idéias:
Deus quem és Tu?
E quem sou eu?
Penetra o meu pensamento. Invade meu orgulho, irriga meu radicalismo com o orvalho da humildade antes que se dissipe meu tempo e eu me torne uma terra seca e estéril. Ensina-me a ouvir no silêncio e a enxergar na ausência da luz. Eu quero te conhecer.

Há uma busca insaciável em todo ser humano. Parafraseando Jesus, o Mestre dos Mestres: “Bem aventurados os que se esvaziam em seu espírito e se tornam garimpeiros em busca de suas origens, porque, ainda que se percam num mar de dúvidas, deles é o reino da sabedoria”. Palavras do escritor.


Bom, quando li este texto, refletindo muito sobre ele o achei maravilhoso. Pude pensar que as palavras do Apóstolo Paulo sobre o Deus desconhecido, quando na Grécia testemunhava de Jesus Cristo, nunca imaginou o discípulo do Mestre, que iriam invadir o coração de um filósofo ateu.
Realmente sempre fico impressionado com o poder das boas novas que sempre rompem as maiores barreiras, naturais ou não.
Gostei muito da frase: “Deus e o ser Humano são cúmplices um do outro, frutos do mais excelente equívoco, o equívoco do amor. Um amor nascido nas tramas da solidão".

Enquanto muitos perdem tempo com a religiosidade do nada, muitos outros ganham se enriquecendo com palavras de sabedoria. Principalmente, quando estas palavras deixam Deus estar no lugar de onde Ele nunca deve sair, no centro da vida.

Pense nisso!
Vida e Paz.
Moacir